Dona Páscoa, liderança do Conselho Diretor da Malungu |
As dificuldades enfrentadas pelas dezenas de comunidades quilombolas no Pará beiram o incontável, mas esse povo lutador conta com características únicas de organização comunitária, coletividade e a sua relação com o meio em que vivem deveria servir de exemplo de sustentabilidade.
Durante as cinco oficinas realizadas pelo Fundo Dema, no âmbito do Fundo Amazônia, organização e senso de coletividade foram destaque. No período de 15 de janeiro a 20 de fevereiro de 2012, uma equipe multidisciplinar do Fundo Dema se reuniu com cerca de 120 lideranças, integrantes de aproximadamente 60 comunidades das regionais Nordeste Paraense, Baixo Amazonas, Salgado, Tocantina e Guajarina, todas ligadas a Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará – Malungu. Esses encontros fizeram parte do cronograma de oficinas de “Sensibilização e Capacitação em Elaboração de Projetos Socioambientais para o Fundo de Apoio às Comunidades Quilombolas do Pará”.
Nesse primeiro passo, como bem explicou Ângela Paiva, do Fundo Dema, deu para perceber as potencialidades das comunidades e ruas riquezas. Em uma dessas oficinas, uma das lideranças destacou que “onde existe uma comunidade quilombola na Amazônia, com certeza, existe também a preservação do meio ambiente”. Uma frase simples, mas que expressou uma outra realidade observada durante o trabalho, pois existe, segundo Ângela, na maior parte das comunidades visitadas, um respeito às tradições e ao meio ambiente, que se refletem no modo como pescam, caçam, usam os recursos florestais e, principalmente, no direcionamento dos projetos propostos.
Outra informação que evidencia a forte organização das comunidades é que do universo de 52 Organizações e Associações Quilombolas, localizadas em 17 municípios paraenses, que participaram das oficinas, mais da metade, ou seja, 33 delas, já possuem a certificação da Fundação Cultural Palmares e outras 3 já solicitaram a certificação e aguardam uma resposta da Palmares.
Lideranças quilombolas em uma das oficinas. |
Baixa escolaridade traz inseguranças
Porém, as oficinas evidenciaram ainda uma triste realidade, a baixa escolaridade nas comunidades e por isso mesmo, o receio das lideranças em tentar elaborar projetos em busca de financiamentos. “Muitas lideranças temem não ter a capacidade técnica necessária”, refletiu Ângela.
Porém, as oficinas evidenciaram ainda uma triste realidade, a baixa escolaridade nas comunidades e por isso mesmo, o receio das lideranças em tentar elaborar projetos em busca de financiamentos. “Muitas lideranças temem não ter a capacidade técnica necessária”, refletiu Ângela.
As oficinas do Fundo Dema tentam dar um início de resposta a esse embate, pois discute com as comunidades, passo a passo, todas as etapas da elaboração de projetos e mais ainda, estimula a que as potencialidades de cada comunidade sejam respeitadas e valorizadas, pois um projeto só dará certo, se houver relação de pertencimento da comunidade envolvida e fizer sentido aos anseios dessa comunidade.
Dessa forma, o Fundo Dema segue como agente estimulador de Justiça Ambiental, pois tanto os recursos do financiamento, como todo processo envolvendo as oficinas, visa a fortalecimento das comunidades na construção coletiva de conscientização de seus direitos e suas lutas.
Os frutos dessa articulação pautada nas parcerias e no respeito das tradições comunitárias começam a aparecer. Pois, mesmo com todas as dificuldades enfrentadas pelas comunidades e o pouco tempo entre a realização das oficinas e os prazos finais de envio de projetos para o Fundo Dema, pelo menos 10 comunidades enviaram propostas e estão concorrendo aos recursos da “Chamada Pública para Projetos Socioambientais para o Fundo de Apoio às Comunidades Quilombolas do Pará”.
Os 10 projetos inscritos ainda serão avaliados e a previsão é de que nos próximos meses sejam divulgados os selecionados.
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